sexta-feira, 26 de março de 2010

Comportamento, indignação pública e Estado de direito

As pessoas reagem ao ambiente a sua volta, ou, mais precisamente, ao ambiente que elas são capazes de perceber a sua volta, pois aquele e este dificilmente coincidem. Dito isto, é válido inferir que a reação das pessoas é marcadamente manipulável, dado que sua percepção é viesada pela pelo comportamento das outras pessoas e pelas lentes por que enxergam o mundo.

Há, portanto, pelo menos duas maneiras de se influenciar – intencional ou não intencionalmente – o comportamento de alguém: alterando as lentes responsáveis pela sua percepção ou inserindo a pessoa em um meio propício. O primeiro caso diz respeito fundamentalmente à mídia, o segundo, ao público.

Quanto à mídia, pode-se dizer que a população em geral depende dos meios de comunicação para se manter informada. E, por mais isentos que esses veículos de informação possam ser, no simples ato de selecionar o que transmitir dentre os inúmeros acontecimentos do dia-a-dia, é deixada uma marca de parcialidade. Isso significa, que alterando o input de notícias, modifica-se a maneira como as pessoas se portam.

Já o público pode ter influências ainda maiores, pois, aparentemente, as pessoas têm uma tendência natural – e nem por isso aceitável – de transfigurar seu comportamento quando partilham de um sentimento que consideram comum a outras pessoas. O comportamento de massas faz as pessoas agirem de maneiras que seriam inconcebíveis em outras situações.

Agora, quando a mídia em conjunto volta suas atenções para um determinado acontecimento e tal fato repercute muito, o comportamento de cada indivíduo se altera profundamente, pelas duas razões citadas: a lente e o meio. Um caso que se enquadra nessa situação é o julgamento do casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá.

A indignação pública em relação ao caso é tão descompassada, que os réus – que acabam de ser condenados – têm que ser escoltados para não serem linchados pela multidão que esteve presente na saída do fórum onde ocorreu o julgamento. Não defendo o casal, absolutamente. Minha defesa é, sim, do Estado de direito, que prevê que o réu deve ser considerado inocente até que sua culpa tenha sido provada em um julgamento justo.

Além disso, o monopólio da violência pertence ao Estado, do mesmo modo que as penas impostas aos condenados derivam da lei. Qualquer tentativa individual em se promover justiça com as próprias mãos é, destarte, inválida e ilegítima. O casal deve ser encarcerado pelo tempo determinado, mas sua segurança precisa ser preservada, pois ambos correm riscos de morrer na prisão.

Muitos dirão que eles teriam feito por merecer a morte, mas a questão fundamental é que tal pena não existe no país. Se alguém acredita que crimes hediondos como esse são passíveis de pena capital, sua manifestação deve ser vertida em direção a modificação da lei e não da morte do casal. Não cabe a ninguém, mas ao Estado, punir alguém e é por isso que chamo de descompassada a indignação pública perante o caso citado. Mais proveitosos seriam os protestos se exigissem uma mudança na legislação para que casos futuros tenham desfechos diferentes.

Encerro: os indivíduos devem ficar atentos para não terem seu comportamento alterado diante de um contexto que favoreça a irracionalidade. A manifestação das massas é fundamental para promover algumas mudanças, mas elas devem ser direcionadas aos campos onde a transformação possa de fato ser feita, sem ferir os direitos fundamentais do homem. Há coisas que extrapolam a alçada das pessoas e é justamente para suprir essa lacuna de maneira eficaz que o Estado está presente.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Status quo e racismo

Há já algum tempo, em julho de 2009, Danilo Gentili postou no serviço de microblog Twitter a seguinte afirmação:
"Agora no TeleCine KingKong, um macaco q depois q vai p/ cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q e? Jogador de futebol?"

É fácil de imaginar que a polêmica se instaurou rapidamente. Houve aqueles que repudiaram o comentário, acusando seu autor de racista, e aqueles que pensaram ser o post sinônimo de liberdade de expressão.

Não sou negro, mas compreendo o sentimento de indignação de parte deles. Digo parte, pois, aparentemente, nem todos se sentiram ofendidos por causa do comentário.

Sustento a seguinte opinião: quando existe um grupo étnico, religioso, sexual etc. que é socialmente desfavorecido por sofrer alguma forma de discriminação, seja ela histórica ou atual, qualquer atitude que esboce alguma forma de segregação deve ser banida. Isso, pois pequenas ações, por mais insignificante que elas sejam, podem contribuir por manter o status quo periférico de tais grupos. Uma frase como a de Gentili pode ser considerada reacionária, sim, pois pelo menos alguém a percebeu dessa forma.

Além disso, qualquer comparação com outras situações pode descaracterizar o acontecimento completamente. Isto é: se eu, branco, falar que não me sentiria ofendido se alguém me comparasse a um urso polar e usasse tal afirmação para desqualificar o sentimento de ofensa de um negro, meu argumento seria absolutamente inválido. Isto, porque faço parte do grupo étnico mais favorecido da sociedade e uma ação que me diminua enquanto grupo não é igualmente eficaz. Evidentemente que nenhum grupo deva ser inferiorizado. Falo isso, apenas, pois muitos se valem dessa argüição para retirar o caráter vexatório de um comentário preconceituoso ou discriminador.

Dentro da mesma perspectiva, encontra-se uma explicação do porque, no Brasil, uma camiseta marcada com as palavras “orgulho negro” não é considerada racista, mas uma marcada com “orgulho branco” é. A população branca não necessita de auto-afirmação, pois já está estabelecida enquanto grupo dominante em um contexto social (entenda dominante como uma posição de destaque financeira, política, academicamente etc.). O grupo afro-descendente, por outro lado, é o outro lado da moeda. Compreenda-se que digo isso com um sentido bem estrito. Não julgo as causas da marginalização ou as políticas de ação afirmativa. Faço referência exclusivamente à situação periférica de alguns grupos, que pode ser objetivamente analisada.

Nota-se que fiz referência, no parágrafo anterior, a uma situação que ocorre no Brasil, pois a mudança de cenário pode subverter o parâmetro de racismo. Um grupo dominante em um cenário pode não o ser em outro. Exemplo disso é um indiano na África do Sul durante o regime do apartheid e um indiano em seu país de origem. No primeiro caso, o indiano faria parte do grupo marginalizado, no segundo, do grupo dominante.

Naturalmente, há muito mais do que se abordar sobre esse tema. Sem embargo, penso que os pontos colocados são suficientes para expor minha opinião sobre o assunto que originou o texto. A opinião de todos é bem-vinda.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Esclarecimento

Vai um esclarecimento: o título do blog. Aristoi vem do grego antigo e significa os melhores. Geralmente é associado com a aristocracia, mas seu sentido como título deste blog não é esse.
Os Aristoi, aqui, são os meus melhores pensamentos, as melhores idéias que eu tiver. Id est: aquilo que eu achar que vale a pena expor, aqui postarei. Espero que leiam e comentem.

Alea jacta est!